terça-feira, 27 de abril de 2010

reaprender

diga que ao pisar em areia de praia os pés não afundam
que ao sujar-se nessa mesma areia, a água que te banhará terá areia e sal
e o sal em teus olhos faz arder a própria vista
longe da vista dos outros
na garganta, provocará sede
diga-me que essas sensações não são verdade
diga-me que a natureza é a favor do homem
e tudo o que se cria pode ser modificado, readaptado
decerto, as coisas acontecem de acordo com a maneira que enxergamos o mundo
ou como nos apresentamos e vivemos
talvez arriscar e afundar os pés não seja uma experiência difícil
posso perceber que é mais fácil do que aprender a andar
aconselho-te a deixar a superfície desalinhar
não te preocupes, porque as ondas vão cobrir os buracos feitos pelos teus calcanhares.

sábado, 24 de abril de 2010

passei por você

Quem dorme no chão, não sonha acordado. Aquele que come sem prato, caça a comida. A sede é de cana. Cigarros encontrados no chão servem para pensar na vida. Toda solidão toma o tempo. Sem compromissos, muito menos retorno para a casa, resta o que resta. Sobras para quem só pensa possuir os restos. Numa noite fria, necessita-se mais do que um cobertor, mais do que uma caixa de papelão ou a marquise da casa lotérica. Dessa necessidade, não sei. Passei por você ontem à noite e pensei nisso.

eu amo

O verbo 'amar' deveria ser conjudado apenas em primeira pessoa, no presente do indicativo.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

cometa

Preguei estrelas e aparafusei a Lua numa tela negra de tinta cintilante. Rabisquei um palito de fósforo de ponta a ponta, em todo o céu, para roubar a cena de qualquer cometa intruso. Este céu, antes todo meu, está para um banco solitário que contempla o mar. Feche os olhos, vou acender outro cometa. Faça um pedido, antes de a luz se apagar.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

agorafobia

agorafobia
me assusta na rua
parado
e em movimento
agora a fobia
me deixa em desalento
preciso de sustento
para um novo dia
você conhece minha fraqueza
age com covardia
pense em mim
e tornar-se-á minha amiga

domingo, 4 de abril de 2010

sob controle

A janela está aberta. Por ela atravessam visão e pensamentos absortos. Excertos de épocas passadas e anedotas retiradas não sei de onde. Vejo uma nuvem modificando a sua forma. Ela está aflita e vai chorar, penso. Sinto-me feliz e tranquilo. O vento pode balançar tudo, mas o que é forte permanece fixo. Durmo sem prefácio. Enquanto isso, a chuva em meu rosto diz que é preciso fechar a veneziana. A ignoro e permaneço imóvel. Porque sob essa água dançam as plantas de meu quintal.