segunda-feira, 31 de maio de 2010

de tarde

as gaivotas aterrissaram na areia
e deixaram a tarde mais serena
enquanto as ondas traziam uma brisa salgada
teu cabelo cruzava a linha do horizonte
molhamos os pés no lençol
desenhando formas nauseantes
sob o sol poente escondido nas nuvens
agradeci a felicidade naquele dia
segurei as mãos
porque tudo era de verdade

sábado, 22 de maio de 2010

certas noites

as noites acordam
e levantam para lavar o rosto
olham o filme da vida pela janela
e perambulam na cozinha
à espera de mais um dia
que tarde chega
e leva a insônia
para o ralo da pia
junto com café frio
passado ontem
de manhã

terça-feira, 18 de maio de 2010

sexta-feira, 14 de maio de 2010

nascente

não desapego
do que me resta
de rio lento
seguindo por águas mansas
sem pressa de ser mar
humilde, me deixo evaporar
e cair novamente
em alguma nascente
quantas vezes precisar

Depressa demais para contar nessa história

Mesmo se você correr, Dudu, não vai acelerar o tempo. Uma frase que ouvira da mãe desde a adolescência, quando pensava, naquela época, que fazer tudo depressa faria com que os dias fossem consumidos mais rápidos. Era a vontade de chegar à fase adulta. Era a vontade de alcançar todos os desejos e sonhos daquele mundo: o mundo dos mais velhos. Quando chegou a essa etapa, Du pensara em todo o tempo, ou melhor, do pouco tempo que empregou aos minutos de sua vida. Era tudo muito rápido. Tudo muito enjoativo. As coisas foram acontecendo sem ao menos perceber o despercebido. Sem tempo para brincar com o filhote de labrador que ganhou do pai. Morreram, pai e cachorro, há anos. Sem tempo de ver a mãe com o rosto juvenil sorrir para ele, antes de ir para o trabalho. Com a maior distração, quase não escutou o sim da esposa na hora do casamento. Os filhos vieram depressa e cresceram mais depressa ainda. Senhor Eduardo chegou aos 88 anos, e só agora notou que já está velho.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

pensar

A formiga escalava a raiz de uma árvore. "- Vai levar muito tempo para alcançar a copa". E quem disse que ela quer chegar lá? O pássaro come o fruto muito mais depressa. Ao inseto alguma sobra do voraz apetite da ave? Também sinto fome. Também caminho devagar, para casa. Lá, vou divagar sobre a ânsia de saciar minhas atribulações. Divagar sobre o eu. Buscar respostas durante a minha escalada, diferentemente da formiga. Antes de alcançar a copa que me cabe, é necessário desvendar muita coisa nessa trilha. Esse deserto escondido dentro de uma floresta vasta, cheia de árvores, frutos, formigas e pássaros. Todos se ocupando com as suas vidas e despreocupados com tudo, fazendo o que lhes cabe.

terça-feira, 11 de maio de 2010

seta

No décimo quinto azulejo branco, do revestimento todo branco de uma parede de banheiro, havia um risco azul. Usaram caneta hidrográfica. Todo o local estava limpo. Impecável. Mas havia o risco. Era uma seta desenhada, apontando para a janela aberta. Fiquei curioso. Um aviso sem precedentes. Visão de um lado para o outro. Procurei entender o significado daquilo. Subi no lavabo e olhei pela janela. Por incrível que pareça, não obtive resposta. Desci, frustrado, e a história ficou por esse fim.

terça-feira, 4 de maio de 2010

sol

às 7h da manhã
pela fresta da janela
percebo o quão luminosa é a tua face
refletindo mais luz
do que os primeiros raios de sol
se eu estivesse no equinócio
avistaria somente essa claridade
nas doze horas do dia
nas doze horas da noite
em março
e setembro