domingo, 27 de novembro de 2011

pensamentos distantes

o céu azul, cortado por uma faixa laranja-amarelado à linha do horizonte. Meus sonhos, multicoloridos e por todas as direções.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

um café curto

peço-lhe um abraço
curto
que seja
por favor
dê-me um abraço, senhora

afasta-me a solidão
para trazer além das saudades
de minha mãe
de meu irmão
um latido do cão

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

sábado, 29 de outubro de 2011

tattoo

riscamos as pernas
com palavras alheias
tão nossas
marcamos uma ideia
um conceito
que transparece
estado
espírito
sensação
numa frase
todo o coração

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ao vento (ou balanço ao vento)

um homem caminha em busca de si. um homem, esse homem. só. infinitamente questiona-se sobre o que é, quem é, sobre o seu papel. desencadeia mais perguntas. aguarda respostas. procura caminhos. abre trincheiras com verdades e mentiras. pensa. medita. desacredita. revive tempos idos. avista novos tempos. lembranças. esperanças. há dias de sol, às escuras. há dias de chuva, ao gosto de dias ensolarados. concordâncias. dissonâncias. discrepância. são livros dobrados às pontas para pinçar respostas sobre universos individuais e aplicar à imensidão e complexidade do universo coletivo. não há, definitivamente, algo em vão. há vãos. diversos vãos. salvo as nuvens que passam rasteiras e o vento úmido que balança as árvores. as árvores balançam. o homem sente-se balançado por suas questões.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

pequenos hábitos

acende um cigarro ao escuro. gosta da luz provocada pela queima do fumo. beberica o café. não, não. primeiro bebe o café, depois fuma. são tantos cigarros, tantas canecas. tanto faz a ordem. a vida é uma desordem. filosofia barata para quem tem pequenos hábitos. são sete da manhã e o senhor já está para o mundo. depois de vinte anos, largou o whisky há dez dias. e o que lhe resta é o que lhe sobra dos pequenos vícios sociais. não sabe se é domingo ou segunda. a rotina de aposentado é pesada e lenda. a cama desarrumada e os lençóis sujos não desagradam. a cabeça ferve. duas aspirinas servem. no momento é isso. e que venham os últimos dias.

domingo, 16 de outubro de 2011

incompleto

como um terno sem gravata, senti-me incompleto. em razão de não gostar de terno, muito menos de gravata, noto, nesse momento, imensamente feliz, o escrupuloso engano.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

monte olimpo

a escalada
doze deuses
um patamar
eu, um servo
ao encontro
dos lendários
mito ou verdade
desejo a coroa de louros
em minha cabeça

domingo, 9 de outubro de 2011

brisa

a brisa úmida do mar daqui
oriunda da costa daí
beija meu rosto
com gosto de maresia
e saudade de ti

alegria

aos meus pés
foi-se o rio
lá longe
as águas do Atlântico
molham os teus pés
de criança
embalsamados
com areia da praia

domingo, 25 de setembro de 2011

o quê?

fumei um cigarro e meio em meia hora.
pensar na vida durante esse tempo parece que o tempo correu. uma década para frente à minha frente.
adiantei-me em mais uma xícara de café.
sentei na calçada e observei as pessoas: a passar, pensar, falar, andar a esmo... vi o reflexo na porta de vidros escuros. vi meu eu com aquelas pessoas. estranho é saber que somos tão parecidos: eu e o reflexo. eu e os outros.
comportamentos semelhantes. passos ritmados. arritmias da vida. compassos. descalços. calçados. um cachorro atravessa a rua tão descontraído. outro cão está ao chão, de pernas para o ar. parece tão feliz.
caralho! tem um cara equilibrando uma garrafa de cerveja na cabeça! tem outro a fazer bolas de sabão. e eu aqui. decididamente sem conclusões. apenas com mais dúvidas sobre o que é tudo isso.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

da terra

terra de horizonte torto
entorta meus pensamentos
tua ausência não traz desalento
a essência de teus frutos risonhos
deixa-me a divagar
e lembrar de seus nomes

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

depois da chuva

a chuva a batucar melodias na janela
em minha casa não há telhado
vindo de cima um ruído
o teu choro de criança cruza as paredes
fere meus ouvidos

cessa a chuva
você deve estar a dormir
eu e o silêncio
sozinhos nesta noite fria

domingo, 21 de agosto de 2011

caminhar a vida

quase. quase nunca estamos perto demais da distância que nos separa de nós mesmos. a distância está mais próxima, do outro lado da rua. atravessa! mares e terras não podem ser obstáculos. grandes desafios, sim. as pernas da vida, muitas vezes, não caminham a passos controlados. coisas ruins estão sempre à vista. o importante é despedir-se de nossos monstros e continuar a caminhar (e andar depressa, quando necessário).

sábado, 6 de agosto de 2011

viver

vida, minha vida
não sei se estive presente em todos momentos
todos os encontros proporcionados por ti
nós dois
com o mundo
todo o mundo
agora ou depois
não lembro se agradeci
sorri
chorei
creio que mais pedi e cobrei
será que agradeci?
se não estiver tudo às avessas
porque é assim que é
eu tardo, mas chego.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

camisetas coloridas

de que servem tantas camisetas coloridas? tantas estampas? gosto mesmo das cores em tudo. as cores em cada canto do mundo. e ainda faltam-me tantos cantos, tantos mundos. das camisetas, prefiro as brancas.

visita

leve-me flores
quando bater à minha porta
estejas com um sorriso estampado na cara
pedirei que entre
e sente
e fale
quando eu cansar
cale
levante
vá embora
(sem as flores)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

nada e tudo

sem nada tudo podemos. contudo, o que faremos? de fato, a tolerância permite um resultado inesperado a longo prazo. enquanto isso, o agora apresenta tantas coisas inóspitas quanto duas horas de pensamentos absortos à sombra de um Ypê amarelo. se o tudo não é tudo, deve haver bem mais coisas no nada. bem mais do que consigamos pensar. assim sendo, não consigo classificar nada e tudo.

sábado, 23 de julho de 2011

à deriva

sem remos
segue o pescador
em seu barco
movido apenas pelo vento
este bordo
vela estufada
furada
estrelas indicam o caminho
e a reza à Iemanjá
para ao porto chegar
e salvá-lo dos dias ruins
quando está longe do mar

silêncio do tempo

a distância e o silêncio
fora do tempo
contemplam o espaço e as palavras

saudade quero ver pra crer

diga-me. por favor, diga-me quem inventou a palavra "saudade"? Se não souber, então explica-me por que inventar tal palavra? o sujeito deve ter sofrido tanto, adoeceu e, analisado por doutores, nada foi diagnosticado. nada tinha. aliás, todos os órgãos e suas devidas funções encontravam-se em perfeito estado. um amigo deve ter perguntado o que lhe fazia tanto mal. o "doente" lembrou do irmão que fora morar num país do outro lado do oceano. E, assim num desabafo, expirou uma palavra que nunca tinha ouvido para definir a falta do estimado irmão: saudade.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

casa

anoiteceu
as estrelas são as mesmas
agora as vejo de outra janela

anúncio

os contornos dos prédios emparelhados. moradas paradas contraluz do poente. céu azul-celeste. anil. eu, ausente. o vento frio em meu rosto. corpo aquecido. blusa cinza. anacrónica. no jornal, vende-se apartamento.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

a vida e tudo o que há

amo a vida
e tudo o que há
no mais
nada de menos

perceba

todo amanhecer
é uma nova paixão
solidão é viver sem razão
(e sempre há razão)

cadarços aos nós na garganta

meus tênis moldam-se aos pés
a cada passada reta, torta
nas quatro direções eu ando
meus cadarços se apertam
com um nó na garganta
sentem vontade de chorar

sexta-feira, 8 de julho de 2011

aqui

de braços soltos
ao vento frio e cortante
caminho sob o Sol
vivo às 21 horas
me aqueço com sonhos
e lembranças

quarta-feira, 8 de junho de 2011

TV

heróis demais no meu café da manhã
a TV ligada só enche a alma de tristeza
esquecem da beleza
do bom-dia
da melodia da vida

sexta-feira, 3 de junho de 2011

sê Severina

sê menino
sê menina
corre
corre-corre
pula junto
solto
vento sopra
pipa voa
sai de perto
que lá vem o chute
no campinho
o gol
a bola balança a rede
e a boneca no colo
da menina
Severina
Severino
sê menino
sê menina
corre
corre-corre

quinta-feira, 2 de junho de 2011

tempo

você podia ser
quando criança
o futuro
você pode viver
adulto
o presente
antes de velho
somente passado
depois
ausente

segunda-feira, 9 de maio de 2011

estrangeiro

me sinto como Camus
o mais estrangeiro
minha pessoa, Fernando
mais niilista e Álvaro de Campos
andando de sunga na neve
e cachecol nos jardins à beira do mar
em minha cidade, sinto felicidade bucólica
ao andar descanso no asfalto
pisar com chinelos na areia
vejo os bondes
os vejo em preto e branco
cosmopolita mesmo é a vontade
da vontade do mundo
das coisas construídas pela natureza
desfeitas pelo homem
das coisas feitas pelo homem
e destruída por tantos culpados sem nome

quinta-feira, 28 de abril de 2011

brisa

na brisa do mar
mergulhar em sua imensidão
perder a vista lá longe
que mesmo chegando, chegando...
continua distante
relevo a beleza
e os teus mistérios
navegando sobre ti
seguindo o caminho da correnteza mansa
até o barco chegar ao porto
sei lá onde ou quando
ou ainda talvez
assobio, ajeito o chapéu
e deixo-me levar

comigo, minha vida contigo

reflita no que pensei: só a tua boca beijou meus lábios bem mais do que minha caneca de café favorita. e eu bebo muito café. você sabe disso. só o teu amor é maior por mim do que o meu amor próprio. apenas teus ouvidos escutam o meu silêncio. e os mantém atentos ao meu falatório incessante, irritante, prolongado. e somente você consegue calar-me com o teu silêncio. caretas são formas de reviver a criança interna. e eu amo as caretas. amo todas as emoções e situações cotidianas. amo-te. te amo. amo. de qualquer forma e em qualquer ordem que se construa essa frase. construção, base da minha vida, fico tranquilo quando deito ao teu lado à hora de dormir. amanhã de manhã, acordar e sorrir. ainda com sono, olhar para o teu rosto e perceber a paz. ter um momento egoísta de felicidade. vou ser generoso quando sorrir para ti. e pensar nessas pequenas-grandes coisas. dessa minha vida contigo. dessa tua vida comigo. dessa nossa grande e valiosa vida.

terça-feira, 26 de abril de 2011

comiseração

na paixão ardente
somente por uma das partes
a outra, ausente
mostra suas idiossincrasias para o teto
que capta os pensamentos e não opina
mostra comiseração
com um olhar de cachorro sem dono
enquanto solta fumaça pela boca
a mulher levanta e diz ao homem:
adeus

tempo para recordar

não se lembra dos tempos passados
do tempo que lhe resta
apenas o tempo para recordar

quarta-feira, 20 de abril de 2011

indecisão

construa um balão.
sei, não. para aonde vou?
voa, homem. a vida não vai te esperar.
sigo qual direção?
escuta o coração, ruma pro Norte
e vai.
aproveita o vento. esqueça Leste e Oeste
quando cansares do Norte, retorna ao Sul
aqui?
sim. não esqueça de uma coisa.
do quê?
ao atravessar o azul, preste atenção aos detalhes.
eles são importantes.
boa sorte.

insalubre

sonoridade incólume
meus ouvidos teimam ignorar
toda poesia das águas espumantes
a baterem nas pedras paradas em parede
pra lá, depois da curva
depois do cais, nada mais
uma névoa turva
embaça meus olhos lacrimosos
e traz à boca o mesmo gosto de sal do mar

terça-feira, 12 de abril de 2011

inércia

se me faltam palavras
sobram pensamentos
mãos paradas
mente em movimento
alento à alma
cansada
castigada
pelo sofrimento

terça-feira, 15 de março de 2011

mar sem peixe

o mar estava revolto. revoltado estava o pescador. "o mar não está para peixe", murmurou quando atracou o barco com o mínimo de sardinhas no porão. o homem se esquece da natureza. reclama sem razão. quanto mais reclamar, o mar não lhe dará tostão.

elite do samba

Cadê o samba? Foi embora do barracão? Não, é que agora toca no Credicard Hall. Eu não tenho cartão de crédito. Empresta o teu? Está com o limite estourado. Dancei! Fiquei sem sambar.

segunda-feira, 14 de março de 2011

folhas mortas

o verão se vai
o outono chega
muitos se despedem
outros se apresentam
eu vou contigo
para casa
sentir-me protegido
no teu colo
dormir aquecido
e esquecer
das folhas que caem
e batem à janela
querendo adentrar
ao nosso lar

domingo, 6 de março de 2011

sexta-feira, 4 de março de 2011

o tempo passar

como quem deseja passar
passa o tempo sem desejar
esmagando
amadurecendo
seguindo seu percurso
nascendo junto à criança
padecendo sob as rugas de quem envelhece
cravando-se nelas
feito espinho em caule de rosa

domingo, 27 de fevereiro de 2011

namorados

um coração
puro tão qual o das crianças
encontra um amor
dor
sonha com as mão dadas
e os dois sentados na areia da praia de pernas cruzadas
enquanto avistam o poente
e o céu cor de rosa
sorrisos contentes
alegre presente
esse coração
que sabe amar
com a alma
canta às gaivotas
uma canção melodiosa
em que a letra diz
"a felicidade existe porque lhe entrego a minha"
nuvens passam
o vento carrega as palavras ditas a ele
te encontro logo mais
sigo o caminho beirando a água
penso
as ondulações são como a vida
assim também é o amor

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

balada boba (ou anúncio do coração)

procura-se doador universal de alegria
as pessoas não precisam de cirurgia
nem forjar os sorrrisos na ciderurgia
para se fazer prestar atenção
nas pequenas coisas do dia
ouçam a melodia
para se fazer a canção
escuta o teu coração

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

surrealismo

feio este dia
por se sentir alegria
em demasia
teus olhos nus
de óculos escuros
presenciam uma angústia
imperceptível em mim
o Sol se põe
demoradamente
a ilusão
bem mais do que o trem
viaja a passos largos
chega, e traz consigo a tristeza
demasiadamente mínima
antagônica
ao que está escrito na segunda linha

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

um casal na rua

menti
pra mim
mentiu
pra ti
mentimos nós
a sós
quando eu disse
quando tu disseste
que um coração frágil
como papel molhado
frágil
não sente o amor
frágeis nos dois
frases soltas nas paredes
rabiscadas nessa solidão
inquietante
um casal na rua
inquietou-me
parecia dialogar
ou tentar
outra vez
talvez?
não
mesmo calados
sobre o amor
ou a falta dele
nessas frases curtas
nesse diálogo que criei
só para eles
pensei que essa fora a conversa
terminada com um beijo
e um singelo
adeus

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

margem do rio

dos traços enlaçados de espuma branca
choram as negras lágrimas do teu rio
de cima da ponte
penso no que fazemos à natureza
não estou à margem
cuspo naquelas águas
sujas pela industrialização
e pelo meu comportamento insólito

sábado, 22 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

a luz, o trem da vida

o Sol se põe
beirando a margem
o menino caminha solto
pernas aos trilhos
a cinco minutos passará um trem
com suas rodas roçando o aço sobre os dormentes
cansados de tanto peso
lá vem o trem
enquanto dormem adultos com as costas cansadas
o menino observa
passa o último vagão
recomeça a solidão
de uma noite escura no quarto de dormir
os olhos do menino permanecem acordados
feito lanterna de locomotiva
logo chega o túnel
até a luz aparecer em seu final
quando recomeçar o outro dia
com as costas descansadas
olhos vivos
de almas já mortas

domingo, 2 de janeiro de 2011

sinal

se meu coração fosse longe, sozinho
enviaria-te uma mensagem
via rádio ou fibra ótica
sinal de fumaça
telefone
carta
o que me importa?
queria-o perto de mim
se ainda estivesse aqui
dar-te-ia um abraço
apertado como nó de fita de presente
o ausente
sairia pela culatra
ficaria o amor
ante o agora
na praça, a fazer graça
sorrindo
uma flor balança ao vento

tua vida, como estás?

sem pressa
correm meus pensamentos
absortos
tortos
como uma árvore a balançar
vai de lá para cá
sem sair do lugar
um vento forte a empurra
sem mais chances
a derruba
e aquela não pode mais se levantar
é o que acontece
com quem
espera a morte chegar
e tua vida, como estás?

amizade

a dúvida de uma amizade se dá quando seu amigo não aparece em sua casa numa noite chuvosa do primeiro dia do ano, depois das dez da noite, para bater um papo e te dar um abraço. gostoso também é saber que teus amigos compartilham contigo a felicidade e sorriso da filha deles; coisa tão bela quanto amável. hoje eu percebi que tenho amigos de verdade.

recomeço

a espuma do champanhe caiu da taça sobre a areia, que banhada pela espuma do mar molhava meus pés enquanto ouvia o choro do nascimento de mais um ano. pulei sete vezes para dar sorte. fiquei tentado a banhar-me, com roupa e tudo no mar, para limpar com sal tudo de ruim. a noite foi linda. e as esperanças estão renovadas.