terça-feira, 30 de novembro de 2010

chalezinho à tarde

se me fazes falta
te encontro do outro lado
basta atravessar a ponte
seguir à pé pela estradinha de barro
esquivar dos buracos
e chegar em tua casa
um chalezinho
bato à porta e ninguém atende
percebo a cortina da cozinha mexer-se
alguém se esconde
torço para que não sejas ti
a fugir de mim
depois dessa longa caminhada
dou as costas e volto
absorto
com lembranças das tardes de outono
quando me esperavas à mesa
para tomarmos chá
e rir um pouco da vida

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sol entre paredes

Não, senhores. Não e não! O engenheiro não deve ter calculado o espaço para o Sol se por entre esses dois edifícios. Muito menos pensou em meus olhos mirados através de uma janela. Não deve nem ter visto essa mesma janela, onde eu estava, quando o dia terminava. Repare como a natureza se mostra exuberante cortando o vão das colunas de concreto. E mais sábia (será?). O Sol entre paredes vai dormir por trás das montanhas. (Acredito como quando criança). E eu, admirado, penso como é lindo poder dar brilho ao que realmente merece.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

crack

- Moço, preciso da sua ajuda. Você pode me ajudar?
(Dá uma tragada curta, solta a fumaça e bebe um gole, também curto, da lata de cerveja).
- Em que posso ajudá-lo?
(Olhando bem nos olhos dele).
- Sabe o que é? Preciso de dinheiro para a passagem do ônibus. Tive outra recaída...
(Passando a mão que segurava o cigarro pela testa e descansando-a na cintura).
- E essa cerveja? E o Cigarro? Por que você comprou isso ao invés de tomar um ônibus?
(Desacreditado)
- Eu não comprei. Foi uma conhecida que me deu. Todo mundo por aqui me conhece.
(Desacreditado)
- Preciso ir pra casa. Eu tô um lixo. Todo sujo. Fedido. Eu não sou assim. Foi a recaída.
(Olhando para ele, depois para o "nada". Mais um gole de cerveja).
- O que você aprontou? Se teve uma recaída, precisa se manter mais firme. Confiar.
- Voltei a fumar crack.
- Crack é foda. Isso é uma merda!
(Triste).
- Não posso te ajudar. Desculpe-me, não tenho dinheiro.
(Tinha dinheiro).
- Tudo bem. Desculpe-me.
(Chorou e despediu-se de mim).
- Até mais. Força!
(Me distanciei e voltei a olhar para ele. Fiz um sinal de positivo. Ele retribuiu o sinal e sorriu).

Se eu desse o dinheiro, a força que vem dele poderia não ajudá-lo. O dinheiro, pelo contrário, iria complicar ainda mais a vida dele. Cena triste e difícil de tomar uma decisão adequada.