segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

surrealismo

feio este dia
por se sentir alegria
em demasia
teus olhos nus
de óculos escuros
presenciam uma angústia
imperceptível em mim
o Sol se põe
demoradamente
a ilusão
bem mais do que o trem
viaja a passos largos
chega, e traz consigo a tristeza
demasiadamente mínima
antagônica
ao que está escrito na segunda linha

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

um casal na rua

menti
pra mim
mentiu
pra ti
mentimos nós
a sós
quando eu disse
quando tu disseste
que um coração frágil
como papel molhado
frágil
não sente o amor
frágeis nos dois
frases soltas nas paredes
rabiscadas nessa solidão
inquietante
um casal na rua
inquietou-me
parecia dialogar
ou tentar
outra vez
talvez?
não
mesmo calados
sobre o amor
ou a falta dele
nessas frases curtas
nesse diálogo que criei
só para eles
pensei que essa fora a conversa
terminada com um beijo
e um singelo
adeus

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

margem do rio

dos traços enlaçados de espuma branca
choram as negras lágrimas do teu rio
de cima da ponte
penso no que fazemos à natureza
não estou à margem
cuspo naquelas águas
sujas pela industrialização
e pelo meu comportamento insólito

sábado, 22 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

a luz, o trem da vida

o Sol se põe
beirando a margem
o menino caminha solto
pernas aos trilhos
a cinco minutos passará um trem
com suas rodas roçando o aço sobre os dormentes
cansados de tanto peso
lá vem o trem
enquanto dormem adultos com as costas cansadas
o menino observa
passa o último vagão
recomeça a solidão
de uma noite escura no quarto de dormir
os olhos do menino permanecem acordados
feito lanterna de locomotiva
logo chega o túnel
até a luz aparecer em seu final
quando recomeçar o outro dia
com as costas descansadas
olhos vivos
de almas já mortas

domingo, 2 de janeiro de 2011

sinal

se meu coração fosse longe, sozinho
enviaria-te uma mensagem
via rádio ou fibra ótica
sinal de fumaça
telefone
carta
o que me importa?
queria-o perto de mim
se ainda estivesse aqui
dar-te-ia um abraço
apertado como nó de fita de presente
o ausente
sairia pela culatra
ficaria o amor
ante o agora
na praça, a fazer graça
sorrindo
uma flor balança ao vento

tua vida, como estás?

sem pressa
correm meus pensamentos
absortos
tortos
como uma árvore a balançar
vai de lá para cá
sem sair do lugar
um vento forte a empurra
sem mais chances
a derruba
e aquela não pode mais se levantar
é o que acontece
com quem
espera a morte chegar
e tua vida, como estás?

amizade

a dúvida de uma amizade se dá quando seu amigo não aparece em sua casa numa noite chuvosa do primeiro dia do ano, depois das dez da noite, para bater um papo e te dar um abraço. gostoso também é saber que teus amigos compartilham contigo a felicidade e sorriso da filha deles; coisa tão bela quanto amável. hoje eu percebi que tenho amigos de verdade.

recomeço

a espuma do champanhe caiu da taça sobre a areia, que banhada pela espuma do mar molhava meus pés enquanto ouvia o choro do nascimento de mais um ano. pulei sete vezes para dar sorte. fiquei tentado a banhar-me, com roupa e tudo no mar, para limpar com sal tudo de ruim. a noite foi linda. e as esperanças estão renovadas.