domingo, 23 de dezembro de 2012

vida S/A

não cobre a conta
da infelicidade
quem deve à felicidade
é porque tem medo
do espólio de hoje e de amanhã
não te esqueças
a vida é investimento
(a curto prazo)
os rendimentos são diários

sábado, 15 de dezembro de 2012

prêmio salvador dalí

girafas disputarão corrida no jardim dos eucaliptos.
ganhará aquela que cruzar por segundo a linha de chegada - demarcada por dois guinus, cada um em uma extremidade do passeio principal apoiados numa espécie de bengala - com a pata direita traseira em transversal, num ângulo de 45 graus, sendo o grau zero a pata esquerda traseira.
essa competição requer destreza daquele animal, que além de ter os membros inferiores altos, mostra-se demasiado lento e desengonçado.
a prova terá início no próximo dia 5, às 7 da manhã. não há previsão para o término.
o troféu é dourado e tem forma de pirâmide.
o vencedor carregará o prêmio em cima do dorso, pelo resto da vida. como forma de reviver dalí.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

volta

você está aí? meus olhos lacrimejam a tua falta. meu coração palpita mais forte com o cheiro das roupas deixadas no armário. é como se ainda estivesse cá. não consigo entender porque tudo isso aconteceu. não era para ser assim. não era. foi um erro. vários erros recorrentes, quero dizer. essa conversa comigo não rompe a minha solidão. onde você está? queria que estivesse comigo. naquela noite, em que partiu, preferiria estar só. mas a raiva já passou. como sempre passa. e você não voltou. não voltará? pensei ser apenas mais um dos desentendimentos corriqueiros. estou cansada de mim. cansada dessa solidão. a casa está grande. o quarto, infinitamente maior. a cama, um abismo onde me jogo. erros são comuns. difícil mesmo é acertar. não posso agradar mais aos outros do que a mim. sei. preciso ser mais tolerante. menos egoísta. você precisa tantos tudo também. quando voltar, se é que volta, vai ser como antes. também já prometemos o antes outras vezes. o antes. agora estou só. só e triste. é um vazio grande. imenso. incalculável. imensurável. a falta de você. o mundo é bem mais complicado sem a tua presença. não enxergo graça se não tiver os teus olhos. não há sabor sem a tua boca e língua úmidas. não há. sobra tanto café. não aprendi fazer na medida para um só. trago o pão doce da padaria. eu não gosto. você adora. jogo-o fora à noite, quando retorno do trabalho. foram anos na mesma rotina. não é possível mudar assim, de hora para outra. os teus pais devem estar felizes. acho que deva estar com eles nesse momento. os dois nunca aprovaram a nossa relação. estão felizes contigo aí? deixe-os com a velhice deles e o cão. volta logo. volta. tudo será como deve ser. seremos novamente eu e você. estou arrependida, Ana. volta.

sábado, 1 de dezembro de 2012

adeus a ti

não culpo a mim por não sentir remorso de tudo o que foi falado, negado... a impaciência, desobediência, falta de complacência... todas essas coisas que, segundo você, não existiam ou eram em demasia. não sinto. esperar por ti é esquecer de mim. deixar de senti-lo, passou a significar viver. porque sou assim e não mudo. não merece uma mudança. por ti, chorei. para mim, rio. a vida é esse vaivém de incertezas. estou certa de que não o amo mais.

pés de madeira

meus pés de madeira
pesados na água
ardem ao fogo
fixos em estaca