sexta-feira, 3 de agosto de 2012

amargurada, uma senhora

Dei-te a mão. Não porque pedistes-me gentilmente, mas porque eu vi que precisavas. Foi piedoso, confesso. Depois disso, nunca mais fostes o mesmo. Passastes a ignorar o que antes eram cores. Essa sépia que tu criastes em nossas vidas jamais voltará a ser pantone. Tudo bem! Tudo bem! O que importa é ser feliz. Não é mesmo? Ao menos era o que gostavas de dizer. Estou tão confusa que mal posso olhar o meu próprio reflexo. Devo estar horrível. A culpa é sua. Única e exclusivamente sua. Não perguntes-me se ainda lembro da única coisa que tínhamos em comum. Óbvio que lembro: era o gosto pela cor. Gostamos do mesmo tom. Não conheço outra pessoa que veja piada em Tangerina Tango (Pantone 17-1463 TCX). E a coincidência: quando nos vimos pela primeira vez, estava a tocar Carlos Gardel no gaBARdina, aquele boteco charmoso na Vila Madalena. Será que ainda funciona? Desde aquele (futuro-passado) fatídico dia, não mais pousei os pés por lá. Lá que te vi só, a cederes a mão ao afã de uma dança. Achei aquilo tão romântico. Apesar de estarmos a dançar sei-lá-o-quê-menos-tanto, divertir-me. Caí nos teus braços por piedade. Hoje, suplico piedade para mim. Mas não uma piedade vinda de ti, mas vinda de mim. Minha. Do meu âmago. Passaram-se 27 anos depois daquela dança. Depois dessa noite, nunca mais o vi. Pernas e coração atrofiaram. Passei a desacreditar no amor. Essa coisa inventada. Ahha... Duvido que exista. É mesmo uma das grandes farsas da humanidade. Se o inventor é mentiroso ou impostor, uma mentira será. Verdadeiro é o meu sentimento, porque sei muito bem como ele está: vivo e fodido! Isso mesmo! Esse tempo todo a esperar por tua visita. Deixo as janelas e portas abertas para que chegues e apanhes-me. Do jeito que for. Mas chegues. E apanhes-me. Se assim não for, espero que estejas morto. Porque dei-te a mão, depois de tomares o meu corpo e prometeres a tua companhia para sempre. Nem com a amargura anseio dançar.

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