sábado, 6 de outubro de 2012

certa noite, acordei com a chuva

certa noite, acordei com a chuva. ela veio confiante e sem avisar. da mesma maneira com que o namorado surpreende a namorada ao roubá-la um beijo. e foi assim com as gotas a bater nos vidros da janela. um amor jovem, sem pudor. porque os jovens, assim como a chuva, chegam depressa. tudo há de acabar em menos de um quarto de hora. a chuva não parou por aí. o casal diluiu-se nela. "essa juventude não sabe apreciar o que é bom", pensam os velhos. digam-me lá o que é melhor: os corpos juvenis a fervilhar ou a chuva a arrefecê-los? tenho um coração novo. ele me surpreende com atitudes de velho rabugento apoiado em bengala. a chuva alegra-me. a juventude causa-me arrepios. não de vontade, mas de medo. e eles vêm depressa, sem dizer porquê ou para quê. fazem apenas o que deveria ser feito. cumprem o vosso papel. a chuva também. e vai-se embora sem deixar contato para eu convidá-la a bater em minha janela novamente. para o próximo encontro, beberei um bom vinho ao som do jazz das nuvens. meus pensamentos estarão em tudo isso, com uma inveja inóspita e uma vontade de ser chuva. 

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