segunda-feira, 9 de novembro de 2009

o peso da chuva

A chuva se apresentou forte. À tarde, permaneceu tímida em meus ombros e costas. Não molhava e não provocava. Debaixo da marquise, as cordas de um violino, violão e violoncelo vibravam Mozart. Havia o coral das gotas de chuva nos capôs dos carros estacionados. Melodia pós-moderna tomada de assalto. Sons incidentais e experimentais entre natureza e homem. Tenho certeza, com toda a pretenção do mundo, de que os músicos não perceberam o furto. Minha atenção se deu ao conjunto da obra. Há tanta melodia nas ruas. Quando paramos (obrigados) por minutos num abrigo qualquer, podemos notar essa diversidade. Fui para o ponto de ônibus. Não havia a ladainha que existe em qualquer coletivo pela manhã ou no fim de tarde. Parece-me que nesses períodos as pessoas precisam desabafar. Quando chove é: - "... e essa chuva, hein? - Pois é, menina. A roupa no varal não seca". Quando faz sol: - "... que calor é esse, hein? - Pois, é menina. Saio do banho molhada de suor". Há quem fala demais e há os que ouvem demais. Há os silenciosos também e os de sintonia em seus fones de ouvido. Outros de olhos para os livros. Percebi que a maioria, quando retorna ao lar depois de um dia atribulado, anseia a recompensa da chagada. A minha foi encontrar a esposa me esperando com o guarda-chuva aberto e um sorriso que iluminou, às 22 horas, a noite; secou a minha roupa e aqueceu meu corpo. Tudo na medida certa. Antes disso, um homem passou por mim se protegendo com a bandeira do Brasil. Gozado isso. Foi como se a nação o cobrisse da chuva. O salvasse do alagamento em seu corpo causado pelas nuvens com olhos ardidos de fumaça. Uma nação inteira cobrindo as costas de um trabalhador cansado. Espero que, quando ele retornar à casa, possa escutar música e deleitar-se no colo da amada. Sem isso, a noite não passará de uma vontade de chegar e esquecer o domingo sem graça e monótono. Os sapatos dele pareciam pesados. Acho que foi por olhar para baixo. A chuva tem um peso diferente para cada um.

2 comentários:

Cá disse...

Vida, OBRIGADA!!!
Te amo tanto...

Day Rodrigues disse...

[[["Há os silenciosos também e os de sintonia em seus fones de ouvido"...]]]
Moço Alex, que coisa mais lindo esse seu escrito. Parabéns! Logo, logo, lá na editora, teremos que cuidar dos seus direitos autorais... hehe
Fico muito feliz em voltar aqui no seu blog e ler tantas coisas lindas, simples e profundas. Não sei bem em qual ordem isto acontece, mas, sinto assim: beleza adentro na vida ao redor!
Um grande beijo pra vc e pra Cá!
Inté=))