quarta-feira, 11 de agosto de 2010

separação

a resposta lhe cabia, mas não ousou escutá-la do legista. de forma dolorosa, apenas olhou para o corpo do marido estendido numa cama hospitalar suja de sangue. tinha ciência do fato. seu ex-companheiro estava pálido e com os olhos fundos, fechados. na sala branca com mais dezena de corpos cobertos por lençóis, Bruna se viu perdida no mundo. antes do acidente que resultara na morte de Paulo, ela ligara para o celular dele a fim de pedir desculpas por sugerir a separação. ele não atendia. já estava parado com o carro num poste na marginal Tietê. não se sabe ainda as causas do acidente. um suposto efeito se passa na cabeça de Bruna, que reconhece o morto e assina a liberação do corpo. o enterro está marcado para o dia seguinte, às 1o horas da manhã. será cremado. o coração dela está acelerado e as lágrimas salgam seus lábios. sente-se culpada. sentira-se-á por tempos. mal sabe do caso de Paulo com Virginia por mais de cinco anos. depois da sugestão do divórcio, pegou o carro e dirigiu em alta velocidade para a casa da amante. queria vê-la. no meio do caminho, o celular tocou. ao tentar atendê-lo, perdeu o controle da direção. Bruna e Virginia estarão no velório, guardando ou liberando a mesma mágoa sem saberem quem são, despedindo-se do homem que as conhecia muito bem.

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