terça-feira, 1 de dezembro de 2009

esquecer

Chegou à praia. A leste, avistou uma montanha verde imensa. Seguiu na direção oposta. Próximo ao perímetro de alcance da espuma branca na areia, viu-se perdida como uma concha rosa no meio de tantas outras brancas. Identificou-se com ela. Olhou para trás e percebeu as pegadas apagadas. Sentiu-se, brevemente, só. Ninguém a estava seguindo. Viu uma canoa à devira, presa por uma corda amarrada numa castanheira. O balançar nauseante provocado por marolas baianas a fez parar por alguns minutos. Uma brisa lambeu sua nuca suada. Pôs-se a caminhar novamente enquanto as novas pegadas sucumbiam-se à força da água fria e salgada. Sentou na areia, de frente para o mar, e acendeu um cigarro. Tragava quando as ondas vinham e soltava a fumaça ao retorno delas. Mandava a impureza para o oceano. Chorou. Não pela melancolia, mas pela certeza. As certezas geram tristezas quando se alcança a paz. Tirou a blusa de algodão e deitou na areia. Não havia sol. O céu estava escuro e ameaçava chuva. Fechou os olhos de óculos escuros. Levantou. Lembrou da mãe sorrindo e beijando-lhe o rosto. Quis a infância de volta. Fechou os olhos outra vez e pediu. O mar não deu. Resolveu voltar. Não reencontrou a concha. Ficou ainda mais triste. Decidiu ser mais decidida. O regime vai começar na segunda-feira, após retornar a São Paulo. Vai deixar de comer chocolate excessivamente. A análise será substituída por plástico-bolha. A montanha verde vai ficar para as próximas férias, quando estiver mais magra e deixado de fumar. Só estranha o fato de ainda sentir uma falta inexplicável.Ainda não se deu conta dos chinelos esquecidos. Seus pés estão descalços.

Nenhum comentário: