sexta-feira, 18 de setembro de 2009

17h45

Fernando tinha um problema sério com horários. Vivia atrasado e não conseguia controlar o seu tempo. Desde a época da escola. Desde quando marcava encontros na adolescência com os camaradas e as garotas. Tentou de tudo para reverter isso. Despertadores analógicos, de corda, com som estridente. Digitais, daqueles que podem ser programados para tocar dezenas de vezes e com variados tons e músicas. Bips. Celulares de todos os tipos, com viva-voz. Certa vez, depois de perder a hora do casamento do irmão, o desespero foi seu companheiro e lhe sugeriu uma excelente ideia: contratar uma secretária. "Por que não pensei nisso antes?". Ele explicou a história a uma amiga. O trabalho era fácil: ter apenas uma cópia da agenda de Fernando. Ela aceitou, movida mais pela comoção em saber dos apuros do amigo e querer ajuda-lo, o "emprego". Mas, de nada adiantou. Nada adiantava. Mariana era muito eficiente. Detalhava tudo ao "patrão". Endereços, nomes, e o principal: o horário. Mari, como Fernando a chamava, ligava duas horas antes e passava as informações. As repetia uma hora depois. Relembrava-o faltando meia hora. Não tinha jeito. Fernando era completamente absorto. Avoado. Devia ser alguma doença. Será uma doença desconhecida? De repente, início de Alzheimer. Depois de conversar com Mari, a dispensou do serviço e agradeceu. Sem saber mais o que fazer, olhou para o céu e gritou suplicando: o tempo deve parar. O tempo deve parar! De repente, as nuvens começaram a se mover rapidamente. Escureceram. Trovões. Raios. Uma chuva intensa. Fernando pensou que aquilo era um sinal ao seu pedido. Pensou que o tempo realmente congelaria. Olhou para o relógio e, para sua surpresa, os ponteiros continuavam a se movimentar em segundos, minutos. 17h45. Acordou atrasado. Estava atrasado. Aos sessenta e cinco anos, Fernando continuava atrasado. Na segunda-feira, dia de seu aniversário, ele disse: "o tempo deve parar" .

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