segunda-feira, 28 de setembro de 2009

portas

Ainda bem que há boca. Há conteúdo para se expressar e deixar a brancura de lado. Um linear se quebra e quem está do outro lado usa a máscara teatral do sorriso. Sorriso moldado em cerâmica. Não somos retangulares. A verdade assombra os fracos de mente. Fracos temem perder o que pensam possuir. É uma estratégia errada de defesa. Atacar sem analisar quem ou o que é alvo, e o principal: por quê? Pra que a humanidade deve avançar nesse ritmo? Continuemos assim. Todos nós. Caminhemos para um ostracismo, de casa em casa. Nos lares. Todas as portas e portões, janelas trancadas. Ninguém te abraça numa tarde de domingo. Abrem a porta e você permanece do lado de fora. Afastando o medo que trouxe. Na entrada me despeço de uma pessoa compenetrada numa TV. Era a sua diversão durante o trabalho. Não me recusou simpatia e atenção. Foi breve. Fui breve. Um mendigo fuma e manca. Passei por ele na ida e na volta por uma rua arborizada. Linda. Olhei nos olhos dele as duas vezes. Na primeira, tossiu. Na segunda, tragou. Sentou na calçada. Estava com as portas da casa abertas e se fechou para um mundo de portas fechadas. Trancafiou-se onde não há cadeados. Observa de fora os carros passando. Ninguém, ou quase ninguém, o nota. Pode incomodar por pedir um cigarro. Até então, passa despercebido. Não abre sua casa. Qualquer um pode chegar e tomar um café, cerveja. Sentar ao sofá e ver o tempo passar. Outros passam motorizando a vida, por qualquer lado. Atiram sorrisos com expressão séria. Um me atingiu de raspão. Lábios não se movem. Não sei se há conteúdo. Bocas caladas. Estou inquieto comigo por conta disso.

Um comentário:

carolina disse...

Como sempre, muito bom...

Abraço!